História
O projeto MOBILANG tem como principal objetivo analisar, numa abordagem sociolinguística, os fenômenos de tradução e de contatos linguísticos decorrentes das mobilidades humanas, questionando a noção de fronteira. Busca-se assim observar as práticas linguísticas como objeto através do qual é possível ilustrar e explicitar os processos de mobilidades e de contatos. Inversamente, questionam-se as relações entre as línguas, os falantes e suas representações, por meio dos fenômenos de mobilidade e de migração. O projeto iniciou-se na Guiana francesa, junto a famílias de migrantes brasileiros, em que analisamos interações com foco nos contatos e misturas entre as línguas. Partimos do pressuposto de que essas produções representam demarcações simbólicas, linguísticas e culturais capazes de revelar as lógicas que interferem nos fenômenos de migrações e mobilidades, em espaços cuja única referência à fronteira política não basta para descrever os aspectos sociolinguísticos que caracterizam esse contexto. Desses primeiros resultados, buscou-se extrair uma abordagem sistematizada e metodologias que vêm sendo aplicadas a outras situações de contatos linguísticos e mobilidades no Brasil. As análises devem contribuir com a compreensão e o reconhecimento de um Brasil plurilíngue, mostrando que a diversidade linguística é um elemento fundamental na promoção das expressões culturais em um país. Assim, fenômenos diversos de tradução, mudança e de mistura de línguas (seja em termos de alternância códica, empréstimos, decalques, interferências, neologismos, etc.) são identificados e descritos, assim como suas implicações no âmbito individual e coletivo. Nesse contexto, nossas pesquisas buscam entender a questão estruturante da gestão das línguas, seja por um mesmo indivíduo, inserido dentro de uma comunidade, de um país ou de um continente, seja por um grupo ou por uma coletividade, por meio da implementação de políticas linguísticas, com seus amplos desdobramentos sociais. Essas dinâmicas podem também se inscrever em relações sociais e institucionais entre duas ou mais línguas e dois ou mais países. O estudo do plurilinguismo em diferentes contextos migratórios também nos levou à análise das políticas linguísticas em favor da diversidade linguística, especialmente em matéria de assistência linguística em ambientes institucionais a falantes com pouca ou nenhuma proficiência na(s) língua(s) dos agentes prestadores de serviços públicos. Assim, nos últimos anos, as pesquisas vêm focando as atividades de interpretação comunitária e de tradução social, enquanto meios de garantir direitos linguísticos.